terça-feira, 9 de setembro de 2008

A Mulher por...Roy Lichtenstein

Drowning Girl, 1963
Lichtenstein, Roy (Estados Unidos)

" E de repente, caralho, voltou-se-me a vida do avesso, eis-me barata de costas a espernear, sem apoios. A gente, entendes, quero dizer eu e ela, gostava muito um do outro, contínua a gostar muito um do outro e os tomates desta merda é eu não conseguir pôr-me outra vez direito, telefonar-lhe e dizer - Vamos lutar, porque se calhar perdi a gana de lutar, os braços não se movem, a voz não fala, os tendões do pescoço não seguram a cabeça. E foda-se, é só isso que eu quero. Acho que nós os dois temos falhado por não saber perdoar, por não saber não ser completamente aceite, e entrementes, no ferir e no ser ferido, o nosso amor (é bom falar assim: o nosso amor) resiste e cresce sem que nenhum sopro até hoje o apague. É como se eu só pudesse amá-la longe dela com tanta vontade, catano, de a amar de perto, corpo a corpo, conforme desde que nos conhecemos o nosso combate tem sido. Dar-lhe o que até hoje não soube dar e há em mim, congelado embora mas respirando sempre, sementinha escondida que aguarda. O que a partir do início lhe quis dar, lhe quero dar, a ternura, percebes, sem egoísmo, o quotidiano sem rotina, a entrega absoluta de um viver em partilha, total, quente e simples como um pinto na mão, animal pequeno assustado e trémulo, nosso. "



António Lobo Antunes, " Memória de Elefante "

1 comentário:

Jane Doe disse...

OLHA! nao cobras direitos de imagem nenhuma porque fui eu que a tirei! Lá por a tua mao la tar nao quer dizer nada! E porque esta?há outra em que la tens as tuas belas perninhas peludinhas, e nessas ja nao dizes nada? Ah pois é!
Beijos Grandes cheios de saudades