Tic... tic...tic... ouço com maior nitidez regressando de dentro de mim à medida que acordo lentamente do meu sono de montanha e me espreguiço num movimento de acordeão... juro que um exército acampou no meu lombo de tão lixado que estou das costas... aos poucos dezenas de feixes de luz, invasores ultra-violeta entram furtivamente por entre as frechas dos estores amornando-me o rosto descaído e excitando-me as retinas que num espasmo me fazem caír as pálpebras para se protegerem, reabrindo-as então lentamente e com tempo para se reabituarem à luz... tic... tic... tic... no mesmo ritual de sempre desde que á já vai para 2 meses te mudaste para esta cama, arrastando-me para esta cadeira, procuro às apalpadelas irreflectidas com pressas de aranhiço o meu maço de tabaco, recordando-me da minha velhota tonta que sempre que me queria chamar só acertava no meu nome depois de gritar primeiro pelos dos meus dois irmãos... acendo um cigarro, iço-me do cadeirão e desfraldo os estores procurando encenar a coragem de um comandante que se faz ao mar e engolir a vida que agora entra pela janela... tic... tic... tic... quantas cores há no mundo e qual o som da vida? Foi á uma semana a ultima vez que te ouvi... o doutor diz para não perder a esperança mas eu estou derrotado... estou cansado de falar para as flores de plástico por cima da mesa de cabeceira, farto de ler o mundo impresso todas as manhãs e de saber que ele continua e roda e que tudo lá fora te ignora... tic... tic... tic... farto de passar horas a olhar para a merda deste ecrã onde não passas de uma maldita linha verde que desenha chapéus pontiagudos de duende na angustia de saber que tudo o que és se resume hoje a um tic, um caír de agulha que me rouba o fôlego se o outro tic demorar e que é hoje o unico som que existe na minha vida... tic... tic... tic... desculpa... vou lá a baixo ao quiosque comprar o jornal e venho num pulo pois sempre gostaste de saber as notícias e vou insistindo, nunca se sabe talvez que a minha voz consiga penetrar esse teu casulo... tic... tic... tic...
15 minutos depois...
Olha encontrei agora o doutor e ele diz que foi encontrado um dador compativel e há uma esperan... tuuuuuuuuuuuuuuuuu...
4 comentários:
:O
Fantástico!
Adoro a tua escrita, mesmo mesmo*
gostei!
mas será que já não se fazem finais felizes?
lol prometo que da próxima vou tentar... acho que sempre associei os finais felizes aos contos da Disney e como dizem os teóricos do desenvolvimento, a caminhada para a adultícia é feita de ganhos e perdas, mas as ultimas parecem pesar sempre mais que as primeiras.Uma tristeza lol... ;P
eu estou é a ver que me devia ter sentado ao teu lado na freq! :P
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