sexta-feira, 14 de maio de 2010

Heart-Deco

 

auto-retrato de smoking

“Auto-retrato de smoking”, Max Beckman

 

“ Da existência ficara-lhe o olhar desvairado, pra dentro, de quem segue na alma um sonho e anda na vida por acaso; o olhar daqueles em quem a vida interior é enorme e que ficam surpreendidos quando a dor lhes diz que o mundo existe. “

 

“ A Morte do Palhaço e o Mistério da Árvore “

Raul Brandão

Strange

 

 

Send a heartbeat to
The void that cries through you
Relive the pictures that have come to pass
For now we stand alone
The world is lost and blown
And we are flesh and blood disintegrate
With no more to hate


Is it bright where you are
Have the people changed
Does it make you happy you're so strange
And in your darkest hour
I hold secrets flame
We can watch the world devoured in it's pain


Delivered from the blast
The last of a line of lasts
The pale princess of a palace cracked
And now the kingdom comes
Crashing down undone
And I am a master of a nothing place
Of recoil and grace


Is it bright where you are
Have the people changed
Does it make you happy you're so strange
And in your darkest hour
I hold secrets flame
We can watch the world devoured in it's pain


Time has stopped before us
The sky cannot ignore us
No one can separate us
For we are all that is left
The echo bounces off me
The shadow lost beside me
There's no more need to pretend
Cause now I can begin again


Is it bright where you are
Have the people changed
Does it make you happy you're so strange
And in your darkest hour
I hold secrets flame
We can watch the world devoured in it's pain
Strange
Strange
Strange

 

“The beginning is the end is the beginning”

Smashing Pumpkins

sexta-feira, 7 de maio de 2010

E porque…

 

preguiça

 

…amanhã parto de fim-de-semana para o “meu” Alentejo!

quarta-feira, 5 de maio de 2010

… desfeitos

 

… continuação

desfeitos

 

10 anos depois…

E nessa altura já tudo nele negava a vida… “Há uma altura na vida em que é forçoso escolher – ou o sonho ou a vida prática” e eu compreendia a sua revolta ao arremessar a porta… esperava sempre e ainda hoje que ali, pelo menos ali, a realidade não entrásse, que o seu mundo sonhado sobre ele caísse como um véu apolíneo. Mas a realidade é uma velha gorda e verruguenta de avental que sacode as ilusões como poeira e com esgares de nojo e autoridade enxota os sonhos como ratos… e ou nos acomodamos ou lhe tentamos fugir. O meu pai havia então encontrado o seu pequeno globo de neve, mas neste, em lugar de confettis, um desvario de bolhas ascendentes numa fuga de cevada que engolia pelo gargalo e lhe subvertia os nervos…

Ele à porta da casa de banho com as calças pelos tornozelos

- Cuidem da vossa mãe, é o melhor que têm na vida

a esbracejar sem nexo com o sal das lágrimas a gretar-lhe os lábios gelados da cerveja, com a camisa aberta, mostruário de flanela exibindo um velho casco de costelas, pregas de carne, pelos grisalhos e uma ascíte aguda… eu no beliche a espreitar por cima da tábua que só me deixava ver meio pai enquanto o mais novo a puxar-lhe as calças para cima

- Vá lá pai

e eu a perceber-lhe no tremer da voz que não calças mas a tentar erguer um pai

- Por favor pai

a partir do nada, peça a peça como se ele uma das suas torres de lego que na altura dos sonhos acreditava ser capaz de elevar aos céus, mas que ao sentir a comichão a realidade e as suas leis faziam tombar…

O mais velho no beliche por baixo do meu, ele que já na altura alheado, nunca por  frieza mas por sobreexaltação sináptica, sempre suspenso num olhar espantado e absorto de astronauta e a perguntar-se como o Raul Brandão “Terá toda a gente esta mesma luta consigo para se acostumar a viver? Que mal excepcional é este de viver? E porque é que tanta criatura que sofre crava as unhas desesperadas na vida, sem a querer largar?”

Eu a afundar-me na almofada e a perder de vista a metade que restava do meu pai, a perguntar para o tecto do rés-do-chão, porque se desfez o teu abraço? Quando é que deixámos de caber no teu peito? Como foi que secáste?

domingo, 2 de maio de 2010