quinta-feira, 22 de abril de 2010

Abraços...








Lembro-me dele chegar a casa e

- Meninos venham cá.

O mais novo como uma seta, num passo pouco ponderado, sempre numa ânsia de primeiro… mesmo quando a minha mãe “- A sopa está na mesa”, que ele tanto odiava, sempre primeiro… iniciamos a vida com esse instinto, correr e depois pensar… a idade encarrega-se de nos abrandar o passo e a coragem até que quilómetros na cabeça e as pernas imóveis.

Da pasta tirou um pequeno globo, uma cúpula de vidro enclausurava uma família em miniatura… apesar de presos percebi que felizes porque na cara todos eles um traço côncavo e não convexo… ao seu lado um boneco de neve com um sorriso de botões e uma cenoura espetada no centro da face gelada (não gelada porque apenas um faz de conta).

Agitou e então um nevão de confettis invadiu a pequena redoma...

O mais pequeno curioso

- E se eles quiserem saír daí?

E o meu pai com reflexos de confettis nas pupilas a responder

- Não vão querer, estão felizes.

E não queriam, como o seu sorriso eterno denunciava...

E então o meu pai enlaçou-nos aos três, desafiando-nos a escapar … o mais velho sozinho não conseguia desatar a ponta esquerda, enquanto eu e o mais novo no flanco direito impotentes, ao ponto do pequeno recorrer a cócegas, que é como se sabe a forma de tocar piano numa pessoa.

E hoje confesso-te meu pequeno parceiro que fazia batota, pois que eu apenas num esforço simulado… a não querer que aquele laço se quebrásse nunca pois que aquela a nossa cúpula, o nosso pequeno mundo de faz de conta onde todos nós também um traço convexo na face e gargalhadas esvoaçantes como confettis…

continua...

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