Pouco tenho escrito e a verdade é que sinto saudades de o fazer... por um lado a verdade é que só o consigo fazer quando tenho tempo para parar, observar, sentir, articular ambos e finalmente traduzir todas essas abstracções em caracteres que formarão palavras que por sua vez se unem em frases que deverei ordenar numa qualquer narrativa... por outro lado também confesso que tudo isto me surge sobretudo a partir dum estado de maior melancolia e não me é fácil observar, sentir e articular o meu interior em fases em que o exterior me toma tanto tempo... portanto, à falta dessa disponibilidade, a catarse faz-se a espaços , e sobretudo a partir de outros interiores já expressados...
Assim sendo, em época de exames e neste Inverno gelado, a catarse tem surgido em suporte digital num ritual que envolve aquecedores, edredons, pipocas e cigarros...
" What, love fades? Oh no that´s so depressing... "
Parece-me que um dos últimos resultados da leviandade com que se abordam e usam precipitadamente as palavras sem ter em conta a sua força e precisão do seu significado terá sido a generalização da ideia de oposição entre sensibilidade/racionalidade. A primeira ouço-a muitas vezes de mão dada à ideia de descontrolo e dependência emocional, proferida com um esgar de quem se refere a algum tipo de enfermidade. Quanto à segunda ouço-a como um sinónimo de frieza de emoções. Da minha parte é-me difícil compreender este encadeamento de ideias e não perceber sensibilidade como perspicácia e inteligência emocional e racionalidade como interesse e capacidade para reflectir sobre algo. De que forma Woody Allen poderia alcançar a complexidade e o carácter incisivo dos seus diálogos sem a sensibilidade suficiente para sentir e sem a racionalidade para reflectir sobre o que sente? Não compreendo como se vê uma oposição entre sensibilidade/racionalidade numa relação que me parece tão necessária e complementar a não ser que a partir de um espírito com um grande défice de ambos.