Diz que me amas... sopra-o mesmo que num segredo de Estado, pega num galho e escreve-o no chão mesmo que depois o varras com o pé, aponta-me as copas de uma manilha num sorriso maroto mesmo que depois as esmagues no tampo da mesa para ganhar a vasa...
- Josefa, as malditas favas complicaram-me no estômago, tou c´uma azia dos diabos...
Perdi-me algures de ti numa solidão de farol apagado, tento alcançar-te e no entanto sempre quilómetros, por mais que eu em dedos dos pés e braços esticados como se tu a caixa das bolachas na terceira prateleira, não te consigo alcançar...
- Eu perguntei-te se preferias ovos escalfados mas disséste que te faziam mal ao fígado...
Admira-me por olhos emprestados de adolescente numa paixão de Verão, espreita-me por entre o fumo que dança para lá das febras no grelhador como nos bailes de Santa Quitérias, escreve-nos com a tua navalha num castanheiro envoltos num coração de cortiça marinado em resina, palma a minha mão num sobressalto de carteirista e pousa-me na relva para ver o lago dormir... luta por mim que não me perdes mas só assim eu me ganho...
- Já passa das três. Vamos andando que prometi à Ti´Guida ver o cano solto da cozinha e depois tenho dominó no Recreativo.
E gritaria que te amo num fulgor de locomotiva se não convencido que tu já surda para mim, se no teu olhar vazio de côr não apenas visse a solidariedade dormente de quem acompanha um caixão, se não convencido que tu desiludida numa consternação de condenada a subir os ultimos degraus do cadafalso...
- Queres ir então?
Diz por favor que me amas, di-lo agora neste manto ondulante de seda azul... não vires as costas, peço-te... olha-me, passa a mão no meu cabelo e morde-me a orelha enquanto mo dizes, vamos fingir que fugimos de todos e estamos novamente por trás do barracão das armas do meu pai onde mo disséste pela primeira vez... não me roubes este momento que eu sou tão tua e tu tão pouco meu...
- ... Vamos.
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