terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Um cavalo branco um coelho branco e um koala branco...



E de repente eu... nem sequer eu porque eu nada... e então nada. Onde sempre um cavalo branco um coelho branco e um koala branco agora apenas eu... e como eu sempre nada, agora nada... e não, não é tristeza o que sinto, não é perda, não são lirismos de harpa nem rastos de gotas salgadas por um escorrega de pele... não é um vazio, não é silêncio... não são tristeza e ausência a plasticina que molda a solidão... um cavalo branco um coelho branco e um koala branco e agora eu... nunca vivi e no entanto morro agora como nunca morri... não é oxigénio, não é sangue... porque ainda oxigénio e sangue e no entanto não mais vida... não percebem que eu sempre nada e voces tudo e eu sempre esmagado porque vocês sempre demasiado tudo para nada... e tudo me deixa para trás e eu pulmões e coração e pancreas e ossos e oxigénio e sangue e no entanto morto... a solidão não são números, não é a ausência de quantidade, não é sequer sentimento... é um não violento quando aqueles que desejamos são sim, é dor física, é asfixia e ansiedade, são veias a latejar e um vácuo que me afunda no poço de mim onde não tenho a que me agarrar... e como não estão aqui vejo-vos em todo lado e tudo são vocês... a cadeira de baloiço um cavalo branco, a mesinha do telefone um coelho branco e o naperon sob o móvel da sala um koala branco... sem voces vejo-vos por todo o lado e no entanto apenas eu e sempre nada. Mato-vos, mato-vos a todos! Dou cabo de vocês! Filhos da puta, filhos da puta!! Eu pequeno e porque razão já nada, porque razão invisivel? Porque razão Natal e por entre a frexa da porta a minha mãe a sacudir gemidos da cama com alguém que não o meu pai e não filhoses no meu prato? Porque razão eu descontrolado, porque razão eu "filhos da puta, mato-vos, dou cabo de voces", porque razão eu nada e no entanto voces comigo? Porque razão eu "sua puta de merda, sempre a vira-los contra mim!", porque razão eu tantas vezes pancadas secas e embriagadas de carne bruta naquela que sempre filhoses no vosso prato quando eu nunca em pequeno filhoses no meu e no entanto um cavalo branco um coelho branco e um koala branco tão perfeitos? Porque vos amava... porque eu nada e voces tudo, porque ainda assim voces comigo, porque o meu amor é canibal, porque eu sempre sozinho, sempre morto e no entanto voces comigo, voces a não desistirem... finalmente novamente apenas eu e então apenas novamente nada... finalmente eu e dor e nada, finalmente voces longe porque de certeza e novamente eu sempre "mato-vos filhos da puta, dou cabo de vocês"...


E outro dia sabia-te ali sem te ver coelho branco e sabia que para ti "e percebi que depois de mim, da Mãe, do bolo, tudo o mais te foi abandonando, tudo te foi dizendo "Assim não..."... e eu de facto que sempre nada e que nunca vida, agora já quase não oxigénio, quase não sangue, quase não ossos e cada vez mais morto sem nunca ter vivido senão na altura em que um cavalo branco um coelho branco e um koala branco...

1 comentário:

echoes disse...

...mas a vida fica-te bem
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