Porque é que a Feira do Livro é amiga? Porque me permite ler Goethe por 0,50 cent.
E porque é que a Feira do Livro tem sentido de humor? Porque enquanto Goethe é vendido a 0,50 cent., a Margarida Rebelo Pinto custa para cima de 10 Eur.
E porque é que a Feira do Livro tem consciência social crítica? Porque através do seu sentido de humor faz-nos olhar ao espelho e questionar: Sob que argumento, que justificação, que ideia lógica ou filosofia, correcta e consistentemente estruturados em que valores e ideais, poderemos nós justificar que havendo Goethe a 0,50 cent. e Margarida Rebelo Pinto a mais de 10 Eur., a segunda seja certamente no nosso país bem mais lida que o escritor alemão? Será que a resposta à "crise" não passa também um pouco por tentar perceber a fundo porque razão o "Portugês Suave" vende mais do que "O Fausto"?
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" A Lisete tem um grande corpo, mamas cheias e um cu redondo e desde miúda que se orienta bem com os gajos que vai conhecendo, deve ter sido a mãe que lhe ensinou uma ou duas coisas. Já eu, que saio ao meu pai e tenho um rabo pequeno, não podia pôr o corpo a render nem que quisesse, porque ninguém quer aviar uma carga de ossos, embora tenha melhor aspecto do que as mulheres que fumam à beira das estradas do parque de Monsanto para ir buscar guita para a dose do dia. "
Amigo não empata amigo - Textos inéditos, em Site oficial de Margarida Rebelo Pinto
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" - Não, não digo coisa alguma de mais. As regras só cortam os ramos supérfluos, fixando limites razoáveis ou convenientes... no teu modo de ver. Meu caro amigo, queres que te apresente um exemplo? Acontece com elas o mesmo que com o amor. Um rapaz apaixona-se por uma rapariga, junto da qual passa todo o dia, consumindo a vida na contemplação daquela a quem ama e empregando todos os bens, todas as forças, todas as faculdades para lhe provar que é inteiramente dela. Chega um simples burguês, com experiência da vida, e no gozo da consideração pública, e diz a esse jovem:
- Meu caro senhor, amar é humano, certamente, mas é necessário amar como ama um homem. Divida o tempo, dedique uma parte dele ao trabalho e dê à sua amada somente as horas que lhe sobrarem para recreio. Calcule bem as suas despesas e os seus bens e, se alguma coisa lhe sobrar, não o proíbo de lhe oferecer algum presente, contanto que não o faça frequentemente; por exemplo: no dia dos anos dela, ou no do seu nome e pouco mais.
Se esse rapaz seguir o conselho, poderá vir a ser um grande homem, e eu próprio não hesitaria em pedir a qualquer príncipe que lhe confiasse uma pasta de ministro. Mas o amor é que desaparecerá nele e, se for artista, nunca mais poderá provar que tem talento. "
Werther, J. W. Goethe
Não é óbvio? ...