sábado, 30 de agosto de 2008

Fim-de-semana com Algarve & Friends...


E já me vejo amanhã
de cerveja gelada na mão
rodeado pelos meus "irmãos"
pôr do sol no horizonte
de olhos fixados na Tv
e coração na Catedral...



E salta Benfica e salta Benfica Olé Olé!!!

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Morreu Gigliola Cinquetti...


Naquela noite fomos para tua casa. Chegámos à rua transversal à avenida onde ficava o teu prédio. Para estacionar o carro, reduzias para primeira, calcavas a embraiagem com o esquerdo e insistias no acelarador com o direito, mas já de prevenção no travão, o motor rugia e finalmente saltavamos o equador que separava o asfalto do passeio, tal qual fazem os cavalos numa prova de hipismo.


- Espera 2 minutos aqui Carlos, é tarde e não quero que os vizinhos te vejam entrar a esta hora comigo. Esperas 2 minutos depois de eu dobrar a esquina e vens. Não te esqueças de trancar o carro.


E eu esperava, tal como o Xau-Xau da minha amiga Graça esperava sempre à porta depois do passeio, que ela fosse buscar um pano para lhe limpar as patas... saí do carro mal dobráste a esquina... aguardei mais um pouco, dei um xuto numa lata e afugentei o gato que me abservava do outro lado de uma cerca de arame. Segui então os teus passos... toquei à campainha, abriste-me a porta do prédio, entrei no elevador, saí no 2º andar, entrei e fechei a porta que tinhas deixado entreaberta.


- Queres trincar qualquer coisa?

- Não me apetece Luisa. Onde está o comando da televisão?


Gostava do silêncio das noites que passava contigo... toda a cidade durmia menos nós, na tua cozinha, de luz acesa, a televisão nas notícias... apreciava a inocência das tuas costas, voltada para o balcão da cozinha, de mãos pequeninas, a barrar dois paezinhos de leite com doce de morango, a fazer lembrar as malditas miniaturas que insistias em impingir-me cada vez que íamos ao Japonês em Odivelas. Eu, homem de prato exagerado, homem de carne e molho espesso, eu que apreciava a erosão de uma montanha de guisado, que limpava os espólios com uma pedaço de pão saloio... eu contigo no Japonês, sentados ao lado de uma passadeira onde minusculos pires apressados desfilavam miniaturas de peixe enrolado, pedacinhos de fruta, tacinhas de arroz... eu que só apreciava aquela passadeira contigo.


- Temos de ir mais vezes ao Japonês. É bom não é?!

- É sim fofinha.


Fomos um pouco para a sala. Ligámos a televisão, abrimos uma garrafa de Porto Offley, e sentámo-nos no sofá, enrolados na colcha... eramos Kitsch e eramos Trés Chiq, eramos Alfama e Nova Yorque, e levava-mos ambos a sério, de ambos nos ríamos e talvez, de vez em quando, ao observar o outro, ambos nos irritássemos um pouco... mas nunca te quis Barbie, nunca te quis de sorriso sempre aberto e linear, até porque não vivo no mesmo mundo daqueles de sorriso permanente e gargalhada fácil... não é essa a minha natureza... por isso me encantavam os matizes, as discussões intelectuais, meio a sério meio a fazer de conta, enquanto seguráva-mos, senhores do mundo, um copo de vinho barato, embrulhados numa colcha de Hipermercado.


- Acho que já não acabo este terceiro copo, além de que estou a ficar muito ensonada. Vou-me deitar...

- Espera, não vás já! Dá-me 5 minutos Luisa, fica só mais 5 minutos aqui enquanto vou ao quarto.

- Mas porquê? Tenho sono, amanhã tenho que me levantar cedo se não perco o comboio das 8:20 para Sete-Rios.

- Eu sei, mas são só 5 minutinhos Luisa, dá-me só 5 minutinhos .


Entrei no quarto, tirei do bolso do casaco um pacote com pequenas velas pretas em caixinhas redondas de lata que tinha comprado no chinês da minha rua nessa mesma tarde. 10 velinhas a 1 Euro. Dispu-las no chão em duas fileiras até formar um pequeno caminho da porta até à cama. Saquei dum isqueiro e acendi-as. Depois procurei na rádio o programa da noite onde um senhor com uma voz baixinha e suavemente rouca e arrastada anunciava o Sinatra, o Raul Gil, e até o Non ho l´eta per amarti de um tal de Gigliola Cinquetti, que não fazia ideia quem fosse, mas que interessava isso, era italiano e isso bastava-me.


Chamei-te. Ouvia a sola nua dos teus pés chapinharem nos tacos de madeira enquanto te aproximavas. Ao abrir a porta um sopro não previsto apagou duas velas, mas nem de perto quebrou o efeito do caminho luminoso. Paráste... olháste para o chão e os teus olhos seguiram as velas até os reergueres à procura dos meus... nunca falavas quando te vinham as lágrimas aos olhos, não agradecias, não explicavas as sensações, o que ía dentro de ti, apenas sentias... dirigiste-te a mim, abraçaste-me e encostaste a cabeça no meu ombro...


...beijaste-me... beijamo-nos... fizemos amor. De manhã apanhámos o comboio juntos e como sempre tu desceste em Sete-Rios e eu em Entre-Campos.


Alguns meses depois acabámos... soube mais tarde, por a tua amiga Paula com quem me cruzei no clube de vídeo, que tinhas aceite dirigir um novo projecto da empresa num desses novos países no Leste da Europa, que pagavam bem e estavas entusiasmada.


Pouco tempo depois conheci outra pessoa... não mais entrei num Japonês... e li certo dia num quadradinho do jornal que tinha falecido o tal de Gigliola Cinquetti.




6 meses...

Pousou as malas e deitou-se um pouco... adormeceu... na bagagem trazia a ansiedade e o pessimismo, dois "irmãos" irritantes que insistiram em acompanha-lo... cada vez mais presentes durante toda a viagem... a paz de espírito não quis vir, disse que tinha de estar noutro lugar, com outro alguém... sentiu a sua falta...
Mais tarde levantou-se e aconteceu a conversa:

Ele: Tudo bem?
Ela: Tudo bem.
...
Ela: Não, não está tudo bem. Não te consigo mentir...

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Rebento-te! Gosto de ti à mesma...

No dia 5 de Janeiro de 2006 "postei" este texto no Blog Nariz Azul. Quase três anos depois voltei a lê-lo... está entre os textos mais fortes, verdadeiros e impactantes que li e quando o (re)leio penso sempre para mim o quanto gostaria de o ter escrito... simplesmente tinha de o "ter" no meu blog...





"Edgar, Meu Amor"



Por favor Edgar não me deixes assim, o que se passa entre nós, porque não telefonáste? Eu aqui à espera feita parva, nem ao cabeleireiro fui com medo que ligasses, fumei oito Mores seguidos, tenho a cabeça tonta de cigarros, já perguntei ás Avarias se havia algum problema com o meu número e não há... já tentei entreter-me a pintar as unhas dos pés e borrei tudo, até nos calcanhares pus verniz, até na alcatifa, até no braço da cadeira, não foste ao emprego, não foste ao café, não foste ao clube, o que aconteceu Edgar? não é justo, não parece teu, não me deixes assim, dou voltas à cabeça a ver se percebo e não entendo, ainda ontem aqui vieste jantar, ainda ontem me gabáste o ensopado de enguias, ainda ontem ,no sofá, lembras-te?
- Gosto de ti fofinha
ainda ontem, no sofá, coisa e tal, eu no princípio do licor e tu a puxares-me os collants
- Sua má sua mazona
e eu a mostrar-te o cálice
- Olha que isto deixa nódoas na almofada Edgar a almofada é nova
tu de joelhos, tu despenteado, de gravata torta, tu tal e coisa
Quias nódoas quais caraças ajuda-me que o fecho do soutien encravou e nem para trás nem para a frente ajuda-me senão chamo o serralheiro
e claro que não tinha encravado, Edgar, é uma questão de jeito, é uma questão de calma, e tu a olhares para mim e a desapertares o cinto, tu atrapalhado nos atacadores
- Aguenta Deolinda que daqui a um segundo estou aí
eu aguentei, tu estavas aqui a magoares-me a perna com o cotovelo, eu
- Levanta o braço amor que me aleijaste
da janela via-se o Laranjeiro quase todo que o meu apartamento é em cima, o Laranjeiro, a Cova da Piedade, Almada, mais seis meses e tenho as duas assoalhadas pagas, eu a pensar que podíamos, se tu quisesses, morar os dois, arranjar um cão e ser felizes, e nisto tu quieto, tu embaraçadíssimo a olhares para baixo
- Devo andar cansado Deolinda deve ter sido do serão no escritório
tu sem ímpeto nenhum, tu sem vontade, eu a ajudar-te e tu, envergonhado, tu de calças pelos tornozelos num fiozinho de voz
- Deve ter sido do serão no escritório não me mexas paramos meia hora e fico fino
parámos meia hora, assistimos áquele programa onde as pessoas vão pedir desculpa á família e depois abraçam-se e choram e a audiência aplaude a chorar também, e mesmo a senhora que faz o programa, tão simpática, tão boazinha, se comove como se comove o Laranjeiro em peso, eu a beijar-te.
- Já descansáste Edgar?
tu zangado comigo, tu que não ficaste fino nem meia
- Cala-te
numa voz tão diferente da tua, amor, nem fofinha, nem mazona, nem bichaneca
- Cala-te
e eu a fazer-te uma festa, cheia de paixão, preocupada com o teu cansaço
- Edgar
e tu sempre de calças pelos tornozelos a desviares-te para o outro canto do sofá
- Deslarga-me
e eu que te adoro, a pôr-te a mão na coxa, e tu como se a minha mão queimasse
- Deslarga-me poça deslarga-me
vestiste-te num instantinho, puseste o casaco, avisaste da porta
- Se contas a alguém o que me sucedeu rebento-te
eu a compor-me estarrecida, eu a tropeçar atrás de ti
- Não me deixes sozinha não te vás embora Edgar
tu a desceres a rua para a camioneta, tu curvado como se carregasses o mundo inteiro nos ombros, eu da marquise
- Edgar
e nem sequer te voltaste, nem sequer adeus, nem sequer um sorriso, nem sequer um telefonema, queria dizer-te "Não te apoquentes", queria dizer-te "Não tem importância, gosto de ti à mesma, hoje tentamos outra vez, eu não conto a ninguém Edgar, juro que não conto a ninguém, não vão troçar-te no emprego, não vão troçar-te no café", podíamos morar os dois no Laranjeiro ainda que ficasses cansado para sempre, eu não me importo, comprávamos um cãozinho, íamos aos domingos ao Ginjal, isto no Laranjeiro é calmo, vê-se a Cova da Piedade, vê-se Almada, tenho a cabeça à roda de tantos cigarros, já perguntei às avarias se há problemas com o meu número e não há. fiz ensopado de enguias, comprei sorvete no supermercado e o soutien que trago hoje tem rendas pretas e abre-se à frente Edgar, vai ser canja para ti tirar-mo.



António Lobo Antunes
"Algumas Crónicas"

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Engrenagens de mim...

Há dias incolores... fases em que passam... indistintos... clones do nada...


O despertador... um acordar mecânico... semblante sem expressão...
uma golfada de ar com pretensões de vida...


Uma chapada leve de água... outra mais leve ainda... Rádio. Toalha. Roupa interior. Um duche... a água não tem temperatura... a musica não entra nos ouvidos, a água não penetra os poros... secar... olhar o espelho... a mesma figura, igual...
Pão. Faca. Manteiga. Fiambre. Leite... o sabor não tem gosto...


Transportes. Pessoas. Detalhes. Conversas perdidas. Trabalho... convívio treinado... ausência, estado de ausência... Almoço. Passos. Actividades. Pessoas. Conversas e ruído... coisas...
final da tarde... coisas... refeição... pessoas... noite...


Há dias que são intenções... são aquilo que um dia seria se o fosse... são espuma e vapor...


Há dias em que apenas respiro... ligado a uma máquina...


Engrenagens de mim...


segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Um final de domingo doméstico...

Acabei de lavar a loiça do pequeno-almoço, almoço e jantar... a minha e a dos meus irmãos... sinto-me como se me tivessem atirado a Austrália às costas... perante este cenário faço um apelo... mãeeeeee voltaaaaaa!!!

domingo, 17 de agosto de 2008

TAXI DRIVER


Sábado à noite na RTP2...




A Sociedade no seu pior!






A 7a Arte no seu melhor!

PS: " I know Cancers are the best lovers " (Iris, interpretada por Jodie Foster)... Bom, é uma profissional do sexo quem o diz... eheh